
Minha história
Nasci em 04 de dezembro de 1944 no final da segunda guerra mundial na cidade do Rio de Janeiro na época capital federal, de dois pais amorosos e adoráveis que dedicaram a vida toda as suas filhas. Eu sendo a mais velha do 2° casamento de meu pai, que já tinha 2 outras filhas. No total 5 filhas mulheres. Fui criada com as duas irmãs desse casamento com minha mãe que era carioca e meu pai paraibano.
Casamento esse saudável onde minha mãe era dona de casa prendada que vinha de família onde a mulher sabia costurar, pintar, bordar, fazer bolos maravilhosos. Morávamos com meu avô por que ela era a filha caçula de 4 filhas mulheres. Fui criada com todo conforto até que meu avô morreu e a vida mudou, pois tudo entrou em inventário, que foi uma experiência de infância muito negativa pois as irmãs ficaram brigando pela divisão que os maridos não concordavam. As irmãs só faziam questão por que na época eram os maridos que determinavam as coisas. Eu assistia a tudo isso aos 12 anos. Quando me tornei adulta jurei que não deixaria herança, por isso ofereço tudo que posso aos meus filhos e netos em vida. Mas no momento começo a ficar muito preocupada, pois meus filhos são muito amigos e não quero que se desentendam por causa de herança.
Voltando a minha história, em 1960 meu pai foi transferido para a nova Capital da República, Brasília, e em 03 de março de 1961 ele trouxe a nossa família para Brasília. Na época havia muita oposição dos cariocas em relação a transferência de capital e por isso estávamos um pouco assustados. Mas quando chegamos amei tudo, eu já tinha 16 anos e fui da primeira turma do elefante branco onde mantenho amizades até o dia de hoje, me formei no colégio normal e fui professora durante quase todo curso de medicina. Fiz vestibular para a universidade de Brasília e passei para a 2° turma de medicina da faculdade de saúde da universidade de Brasília. Que foi uma grande felicidade por ter passado no vestibular tendo feito o curso normal de professor enquanto outros colegas que haviam feito cientifico ou clássico não formaram. Neste momento descobri que a minha missão aqui na terra era ser médica. Agarrei com todas as forças o curso, estudava dia e noite para superar as deficiências das matérias que não tinha aprendido no colégio normal.
Brasília era uma maravilha! Todos vinham de cidades diferentes e queríamos fazer novas amizades, a universidade tinha uma proposta diferente e todos ajudavam uns aos outros, então os colegas que faziam física me ensinavam na parte da noite na escola de 2° grau chamada CIEN, onde os professores também moravam lá e por isso ficava aberta anoite toda. Passávamos as noites estudando, e com isso pude superar minhas deficiências e consegui seguir todo curso de medicina sem nenhuma reprovação.
Finalmente em 18/12/1971 recebi meu diploma de médica, eu e meus pais estávamos na maior felicidade do mundo, meus pais que sempre estiveram presentes e me deram todas as condições para que eu estudasse. Mais uma etapa concluída com sucesso. Durante a nossa formação na UNB a faculdade preparava médicos para suprir a necessidade de médicos que o país precisava, médicos generalistas que pudessem atender nos locais que fossem necessários. Só que a UNB preparou, mas os país não. Então éramos médicos generalistas, mas não tínhamos emprego para exercer a profissão, o país só tinha preparação e empregos só para especialistas. Outro rumo do governo nessa época era que Juscelino não era mais presidente, e tudo mudou com a chegada dos militares ao poder, transformando todos os projetos da UNB em formar médicos realistas para servir o país.
Diante disso veio o impasse, terei que fazer uma especialidade. Como já era professora na rede pública e gosto de ser professora, pensei, quero ser professora da UNB. O que tenho que fazer? Pensei em três especialidades que não tinham professores em tempo integral e dedicação exclusiva, as especialidades eram: oftalmologista, otorrino e dermatologia. Já havia percebido também que o dia a dia e os lucros das especialidades eram diferentes. Essa experiência eu adquiri durante o curso atuando no hospital universitário de Brasília em sobradinho. Quando decidi fazer medicina de início gostaria de fazer pediatria por ter tido uma ótima lembrança muito boa do meu pediatra, Doutor Osman, nunca esqueci dele, um médico atencioso, carinhoso que amava o que fazia, e também era professor de crianças. Mas quando passei pela pediatria quase desisti de fazer medicina, a realidade era e continua sendo dura. Mas as crianças chegavam a baixo do peso e com diarreia, tratávamos internando e recuperando e depois mandávamos para casa. Alguns dias depois voltavam para o hospital e muitas delas chegavam a falecer, pois não tinham o que comer e viviam em condições de moradia precária sem saneamento básico em plena capital federal. Quando chegou a quarta criança que eu havia tratado na enfermaria, eu surtei, pois recebi a notícia que ela havia falecido. Deixei o hospital e disse para meu pai que não iria mais fazer o curso de medicina, fiquei 15 dias em casa, onde meu pai me deu livros para ler e me explicou que eu não poderia mudar o mundo de um dia para o outro, mas que eu poderia fazer o melhor possível para ajudar aqueles que me procurassem.
Então voltei a fazer o curso, e os professores eram maravilhosos, comprometidos, jovens, competentes e presentes, pois trabalhavam na UNB em horário integral e dedicação exclusiva então decidi que era isso que eu queria, ser professora. Nos anos 70 o melhor curso de medicina e os melhores hospitais escolas ainda estavam no Rio de Janeiro, e como carioca tive a preferência de ir para o Rio de Janeiro, fiquei no hospital servidores do estado onde formavam mais residentes na época, era de lá que vinham os médico e professores para trabalhar em Brasília. Fiquei 15 dias em cada serviço que decidi fazer para poder voltar como professora para Brasília, tive a chance de ficar na área de oftalmologista onde o médico apenas media o grau dos pacientes, achei muito monótono. Já na otorrino passávamos todas as manhas no centro cirúrgico fazendo amigdalectomia, também não gostei. Quando cheguei no ambulatório de dermatologia me apaixonei, pois, cada paciente era diferente, com lesões e diagnósticos variados. Logo pensei que era isso que eu iria fazer. Na área de dermatologia era necessário dominar a clínica medica, hoje agradeço a Deus por ter escolhido a dermatologia, pois você pode ajudar todos os tipos de pacientes, porque a pele é o espelho do que passa por dentro de nós, é o espelho da saúde interna.
Entre 1972 e 1974 fiz residência de dermatologia juntamente com os créditos do primeiro curso de mestrado no Brasil em dermatologia com as orientações dos ilustres e renomados professores e doutores, Francisco Eduardo Rabelo e Silvia Fraga na Santa Casa de misericórdia do Rio de janeiro, pavilhão são Miguel e enfermaria de dermatologia cirurgia plástica e queimados.
No dia 30 de abril de 1974, saindo do pavilhão de São Miguel voltando para minha casa no Leblon, parei em um semáforo no centro da cidade e fui abordada por dois indivíduos que colocaram um revolver na minha cintura dizendo que era um assalto, sai do carro gritando ladrão, ladrão, mas ninguém me socorreu. A parti desse dia entrei em pânico e não conseguia mais sair de casa, hoje encaro isso como um provimento divino, pois eu estava em dúvida se voltaria para Brasília ou se ficava no Rio de Janeiro. Nessa mesma época, eu já havia feito o concurso para o hospital presidente médico que hoje é o atual HUB, e havia passado. Estava em grande dúvida se voltaria, a parti daí peguei todas as minhas coisas e voltei para Brasília assumir o posto de dermatologia neste hospital. Em 01/06/1974 me apresentei a direção da faculdade de medicina também informando que estava escrevendo a tese de mestrado, que foi de imunologia química em dermatofitose, que era uma técnica recente em patologia da época. Na época o reitor da UNB era o professor Azevedo que também era militar, não contratava ex-alunos para serem professores, depois da minha entrevista com o professor Aluísio Prata, que era chefe da clínica médica do hospital universitário de sobradinho e chefe do centro de medicina tropical, encaminhou meu nome ao diretor da faculdade de ciências de saúde da UNB, professor Dejano Sobral que também já havia sido professor na área degastro durante o curso de medicina, e ele me recebeu muito bem , fui contratada em 15/08/1974 como professora de dermatologia na UNB. Uma alegria muito grande, mais um objetivo alcançado.
Pela manhã dava aulas e atendia no hospital de sobradinho, a tarde pegava um plantão de 13 horas no hospital presidente médico. Vinha louca pois na época o controle de ponto era muito rígido, onde eu trabalhava até ás 18:00h com medo de perder o contrato na fundação educacional, pois atendia lá na parte da noite porque havia escola noturna para adultos e o serviço médico funcionava.